Parentificação: Quando os Filhos Assumem o Papel de Pais

Parentificação

No complexo universo das relações familiares, existe um fenômeno doloroso e pouco discutido chamado de parentificação. Esse termo descreve a situação em que crianças ou adolescentes assumem o papel de pais para com seus próprios genitores.

Muitas vezes, essa inversão de papéis ocorre devido a circunstâncias familiares difíceis, como divórcios, doenças, dependências emocionais ou químicas e até ausência dos pais.

Nesse artigo abordaremos o que é esse processo, como ocorre, os fatores que contribuem para sua existência, o impacto na vida dos filhos e como lidar com a parentificação.

O Que é Parentificação?

A parentificação é um processo no qual os filhos são forçados a assumir responsabilidades e funções normalmente desempenhadas pelos pais. Essas crianças acabam se tornando cuidadores emocionais, financeiros ou práticos do lar em tenra idade, privando-se assim de uma infância saudável e do desenvolvimento adequado.

É bastante comum pais recorrerem aos filhos para buscar conforto emocional e assim colocarem os filhos no meio do relacionamento de casal. São pais que solicitam frequentemente ajuda ou opinião dos filhos sobre situações que cabem a eles próprios decidirem, no entanto não o fazem por se sentirem carentes emocionalmente.

Nessa dinâmica os pais esperam uma atitude de “parceiros” em uma relação em que as decisões de parceria deveriam ser definidas com seu parceiro real (cônjuge) e não com seu filho.

Dado esse contexto os filhos se sentem desprotegidos e pressionados a se responsabilizar pela situação da família ou de um dos pais.

Como Acontece a Parentificação?

  1. Responsabilidade Excessiva: Filhos parentificados frequentemente sentem que precisam cuidar dos pais emocionalmente, garantir o bem-estar da família e até mesmo prover recursos financeiros quando os pais não são capazes.
  2. Supressão das Necessidades Próprias: As crianças parentificadas suprimem suas próprias necessidades e desejos para atender às demandas dos pais. Isso pode afetar seu desenvolvimento emocional, social e acadêmico.
  3. Inversão de Papéis: Em vez de receberem orientação e apoio dos pais, os filhos assumem a responsabilidade de orientar, proteger ou sustentar a família.

Fatores que Contribuem para essa dinâmica

  1. Divórcio ou Separação dos Pais: Quando ocorre um divórcio, é comum que um dos filhos se sinta pressionado a preencher o vazio emocional e prático deixado pela ausência de um dos pais.
  2. Doença ou Incapacidade dos Pais: Crianças cujos pais enfrentam problemas de saúde física ou mental podem se ver na posição de cuidar dos mesmos, o que pode ser extremamente desgastante para sua própria saúde emocional.
  3. Desemprego ou Problemas Financeiros: Em famílias com dificuldades financeiras, os filhos muitas vezes se sentem pressionados a ajudar a suprir as necessidades da casa, contribuindo para o sustento familiar.
  4. Abuso ou Negligência dos Pais: Em alguns casos, os filhos assumem o papel de cuidadores de seus irmãos mais novos ou mesmo dos próprios pais devido a situações de abuso ou negligência.
  5. Dependência Emocional: Quando os genitores ou um deles é emocionalmente dependente e não consegue sustentar suas responsabilidades podem se voltar para os filhos em busca de conforto e apoio emocional, exigindo que esses filhos se comportarem como parceiros em uma relação que deveria ser de proteção de pai para filho.

Cabe ressaltar que algumas dinâmicas familiares também apresentam esses comportamentos de maneira bastante sutil o que torna a identificação desse processo um pouco mais trabalhosa. Por esse motivo, é importante que os filhos, que já conseguem perceber e analisar o comportamento da família, estejam atentos ao que sentem.

Às vezes podem se sentir pressionados a “tomar partido” de um dos pais em situações de conflito entre os genitores, assumindo um papel de conselheiros sentimentais. Em outros momentos podem assumir responsabilidades com os irmãos mais novos e tomar decisões que caberiam aos pais.

Impacto na Vida dos Filhos

A parentificação pode causar danos psicológicos e emocionais significativos aos filhos. Eles podem experimentar:

  1. Estresse e Ansiedade: O peso das responsabilidades pode gerar altos níveis de estresse e ansiedade, afetando o bem-estar mental dos filhos.
  2. Dificuldades de Relacionamento: Podem ter dificuldades em estabelecer relações saudáveis com outras pessoas, já que sua prioridade foi sempre cuidar dos outros.
  3. Baixa Autoestima e Sentimento de Culpa: Muitas vezes, essas crianças se culpam por não poderem fazer mais ou por qualquer problema que ocorra na família.
  4. Prejuízo no Desenvolvimento: A falta de uma infância normal e de oportunidades de aprendizagem pode prejudicar o desenvolvimento emocional, social e educacional.

Como Lidar com a Parentificação?

  1. Procurar Ajuda Profissional: Buscar aconselhamento psicológico ou terapia pode ajudar o filho a entender e superar os efeitos da parentificação.
  2. Estabelecer Limites: É essencial estabelecer limites saudáveis entre as responsabilidades de filhos e as dos pais. Os pais devem assumir o papel de cuidadores e provedores.
  3. Promover a Comunicação: Ter um espaço aberto para a comunicação dentro da família pode ajudar o filho a expressar seus sentimentos e necessidades.
  4. Proporcionar uma Infância Adequada: Os pais devem permitir que os filhos tenham uma infância normal, com tempo para brincar, estudar e desenvolver-se emocionalmente sem assumir responsabilidades adultas.

Conclusão

A parentificação é um fenômeno complexo que pode ter sérios impactos na vida das crianças e adolescentes. É essencial reconhecer essa situação e tomar medidas para proteger e apoiar esses jovens, garantindo-lhes uma infância saudável e oportunidades para um desenvolvimento adequado.

Buscar ajuda profissional e promover um ambiente familiar seguro e equilibrado são passos fundamentais para ajudar essas crianças a superarem os efeitos prejudiciais da parentificação.

Portanto, é crucial que a sociedade, os educadores e profissionais de saúde mental estejam atentos a esse tema e ofereçam suporte necessário para as famílias afetadas.

Afinal, toda criança tem o direito de crescer em um ambiente que promova seu bem-estar e desenvolvimento saudável, livre do fardo de assumir responsabilidades além de sua capacidade emocional e cognitiva.

Sobre o Autor

Edneusa Santos é Psicóloga, Hipnoterapeuta e Especialista em Desenvolvimento Pessoal. Atuou por 23 anos na área de Gestão de Pessoas. Atualmente se dedica ao atendimento clínico e ministra treinamentos na área de inteligência emocional.

Imagem: Foto Canva

Compartilhe esse conteúdo:

Edneusa Santos

Edneusa Santos

Edneusa Santos é Psicóloga, Hipnoterapeuta e Especialista em Transtornos de Ansiedade, Pânico e Desenvolvimento Pessoal. Atualmente se dedica ao atendimento clínico nas abordagens Cognitivo Comportamental e Sistêmica, além de ministrar treinamentos na área de Inteligência Emocional.

Artigos: 123

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *