Nos relacionamentos, é comum encontrarmos padrões de comportamento que se desenvolvem ao longo do tempo. Um desses padrões, por vezes sutil e controverso, é quando a mulher assume o papel de “mãe” na dinâmica conjugal.
Esta dinâmica, onde a parceira desempenha um papel materno em relação ao seu companheiro, é um fenômeno que merece ser compreendido e discutido de forma aprofundada.
Às vezes, isso se manifesta de maneira inconsciente, outras vezes, é resultado de expectativas sociais arraigadas. Em muitos casos, parece uma dinâmica tranquila e confortável, mas pode criar desequilíbrios prejudiciais no relacionamento a longo prazo.
Nesse artigo vamos abordar os prejuízos dessa dinâmica, as principais causas e como os parceiros podem reorganizar seus papéis para que o relacionamento possa fluir adequadamente.
Sumário do Conteúdo
Papel de mãe na dinâmica conjugal: O que isso significa?
O que significa, de fato, desempenhar o papel de “mãe” dentro do contexto de um relacionamento conjugal?
Isso geralmente se traduz em assumir um papel decisivo dentro da relação. A mulher é quem cuida, protege e orienta, assumindo o direcionamento das tarefas domésticas até a tomada de decisões importantes, inclusive determinando as ações do parceiro.
Geralmente envolve certa dose de controle, onde a mulher passa a dominar a relação, assemelhando-se ao papel de uma mãe com seu filho.
No entanto, essa dinâmica pode criar um desequilíbrio de poder e minar a autonomia do parceiro masculino.
Em vez de serem iguais, a relação pode se tornar desequilibrada, com a mulher assumindo a liderança de maneira excessiva, enquanto o homem se sente infantilizado ou incapaz de assumir responsabilidades.
É importante destacar que essa dinâmica se estabelece aos poucos. No início, parece ser confortável para um dos parceiros aceitar o direcionamento, até que o desequilíbrio se torne mais presente e a relação se torna sufocante.
Quais motivos resultam nessa dinâmica?
Há várias razões que podem levar uma mulher a desempenhar o papel de “mãe” na dinâmica conjugal. Esses motivos podem ser influenciados por uma série de fatores, tanto pessoais quanto culturais, e variam de acordo com a história de vida, experiências vividas e crenças individuais de cada pessoa.
Aqui estão alguns motivos mais comuns:
- Expectativas Culturais e Sociais: Desde tenra idade, meninas são frequentemente ensinadas sobre o papel tradicional da mulher como cuidadora e provedora de apoio emocional. Isso pode levar as mulheres a assumirem naturalmente essa função de cuidado em seus relacionamentos, pois foi compreendido como parte de seu papel no relacionamento.
- Experiências Familiares Anteriores: As experiências vivenciadas na infância, observando dinâmicas familiares, podem influenciar o comportamento futuro. Se a mãe desempenhava predominantemente o papel de cuidadora, a filha pode reproduzir essa dinâmica em seus relacionamentos românticos, acreditando que é assim que as coisas devem ser.
- Necessidade de Controle ou Segurança: Em alguns casos, a mulher pode sentir a necessidade de assumir o controle ou oferecer segurança ao parceiro. Isso pode acontecer se ela perceber que o companheiro não está assumindo suas responsabilidades ou se sente inseguro em suas próprias capacidades. Isso também pode ocorrer se a figura paterna, dessa mulher, não ofereceu segurança emocional e até financeira a sua família de origem.
- Ausência de Equilíbrio no Relacionamento: Se o parceiro masculino não está ativamente envolvido nas responsabilidades do relacionamento ou se mostra emocionalmente dependente, a mulher pode acabar tomando a liderança para manter o equilíbrio na relação.
- Personalidade e Traços Individuais: Em alguns casos, a própria personalidade da mulher pode influenciar seu comportamento cuidadoso e protetor em relação ao parceiro, incentivando a ideia de que ela deve ser responsável pelo bem-estar emocional e físico de toda família. Essa ideia internalizada pode levar as mulheres a assumirem o papel de mãe na dinâmica conjugal, muitas vezes sem perceberem.
- Falta de Comunicação e Limites Claros: A falta de comunicação sobre papéis e expectativas no relacionamento pode levar a padrões de comportamento não saudáveis. Se não há uma discussão aberta sobre responsabilidades e limites, é possível que um dos parceiros acabe assumindo mais do que deveria.
É importante ressaltar que esses motivos não são universais e não se aplicam a todas as situações. Cada relacionamento é único e as razões por trás do comportamento de assumir o papel de “mãe” na dinâmica conjugal podem ser bastante complexas, envolvendo uma combinação de fatores pessoais e culturais.
Os prejuízos dessa dinâmica relacional
A dinâmica onde a mulher assume o papel de “mãe” na dinâmica conjugal pode acarretar vários prejuízos para ambos os envolvidos, afetando tanto a mulher quanto o homem de maneiras diferentes. Aqui estão alguns dos prejuízos mais comuns decorrentes dessa dinâmica:
- Para a Mulher:
- Exaustão Emocional e Física: Assumir constantemente o papel de cuidadora pode levar a um esgotamento emocional e físico para a mulher. Ela pode se sentir sobrecarregada pela responsabilidade de estar sempre cuidando do parceiro.
- Perda de Identidade Individual: Focar excessivamente no papel de cuidadora pode fazer com que a mulher perca sua identidade individual. Ela pode se sentir restrita ou limitada em suas próprias ambições e necessidades pessoais.
- Ressentimento e Frustração: Com o tempo, a mulher pode desenvolver sentimentos de ressentimento e frustração por sentir que está carregando o peso do relacionamento sozinha, o que pode afetar negativamente a dinâmica emocional do casal.
- Falta de Respeito e Valorização: Se a mulher assume o papel predominantemente cuidador, isso pode levar à falta de respeito e valorização por parte do parceiro, que pode começar a subestimar suas habilidades e contribuições.
- Para o Homem:
- Sentimento de Incompetência ou Dependência: Quando o homem é constantemente cuidado pela parceira, ele pode desenvolver sentimentos de incompetência, dependência emocional e até mesmo uma sensação de diminuição de sua autoestima e autoconfiança.
- Redução da Autonomia: Ao se acostumar a ser constantemente dependente, o homem pode perder sua independência e autonomia, tornando-se mais passivo e menos capaz de tomar suas próprias decisões.
- Desenvolvimento de Conflitos e Tensões: A longo prazo, a dinâmica de um dos parceiros assumindo um papel materno pode gerar conflitos e tensões no relacionamento. O homem pode se sentir subjugado ou infantilizado, o que pode levar a discussões e desentendimentos frequentes.
- Estagnação do Crescimento Pessoal: A dependência excessiva pode impedir o crescimento pessoal do homem, pois ele pode se acostumar a não assumir responsabilidades e a não se esforçar para seu próprio desenvolvimento pessoal.
Para o relacionamento como um todo, essa dinâmica desequilibrada pode levar a uma falta de igualdade, respeito e apoio mútuo. Pode prejudicar a capacidade do casal de crescer junto, enfrentar desafios como uma equipe e desfrutar de uma relação baseada na igualdade e na reciprocidade.
Enquanto a mulher pode se sentir sobrecarregada e exaurida por assumir o papel de cuidadora ou até provedora principal, o homem pode se sentir desvalorizado, incapaz e até mesmo ressentido por não ser capaz de exercer sua autonomia.
Papel de mãe na dinâmica conjugal: Como romper com esse padrão?
- Autoavaliação e Reflexão: Ambos os parceiros devem refletir individualmente sobre seus papéis no relacionamento. Reconhecer se há uma dinâmica desequilibrada é o primeiro passo para a mudança.
- Comunicação Aberta e Respeitosa: Estabeleçam um momento tranquilo para conversar sobre as dinâmicas do relacionamento de forma honesta e construtiva. Compartilhem sentimentos, preocupações e expectativas de forma respeitosa, ouvindo ativamente um ao outro.
- Identificação de Expectativas e Papéis: Discutam e identifiquem as expectativas e papéis que cada um assume no relacionamento. Questionem se esses papéis são equilibrados e se ambos se sentem confortáveis com eles.
- Estabelecimento de Limites e Responsabilidades: Definam limites claros e responsabilidades equitativas no relacionamento. Isso pode incluir uma divisão mais equilibrada das tarefas domésticas, financeiras e emocionais.
- Promoção da Autonomia e Empoderamento: Encorajem-se mutuamente a serem autônomos e a assumirem responsabilidades. Apoiem o crescimento individual de cada um, incentivando metas pessoais e profissionais.
- Valorização das Contribuições de Ambos: Reconheçam e valorizem as contribuições únicas que cada um traz para o relacionamento. Celebrem as habilidades e pontos fortes de cada parceiro.
- Busca por Ajuda Profissional, se Necessário: Se a dinâmica persistir ou for difícil de mudar, considerem buscar a ajuda de um terapeuta ou conselheiro de casais. Um profissional pode ajudar a identificar padrões nocivos e oferecer orientação para mudanças positivas.
- Foco na Compreensão e Empatia: Pratiquem a compreensão mútua e a empatia. Tentem entender as necessidades, desejos e pontos de vista um do outro sem julgamento.
- Apoio Mútuo para Mudança: Comprometam-se juntos com a mudança. Trabalhem como uma equipe para romper com padrões antigos e desenvolver uma dinâmica mais saudável e igualitária.
- Reavaliação e Ajustes Constantes: Regularmente revisitem e reavaliem o progresso feito. Estejam abertos para ajustar estratégias e dinâmicas conforme necessário para manter um relacionamento equilibrado e saudável.
Romper com a dinâmica onde a mulher assume o papel de “mãe” no relacionamento requer tempo, esforço e comprometimento de ambas as partes. É um processo gradual que envolve conscientização, mudanças comportamentais e um desejo mútuo de construir uma relação mais equilibrada e satisfatória para ambos.
Conclusão
Quando a mulher assume o papel de “mãe” do marido, é essencial identificar essa dinâmica, compreender suas raízes e trabalhar em conjunto para nutrir uma parceria baseada no respeito e no amor mútuo. Para tanto, é fundamental que cada indivíduo esteja aberto a se reconhecer, descobrindo suas necessidades e trabalhando ativamente para supri-las de forma independente.
Isso implica em reconhecer que não há uma maneira “certa” de ser um parceiro, muito menos que um tem a responsabilidade de “cuidar” das necessidades do outro, mas sim uma colaboração baseada na reciprocidade e na valorização mútua, onde ambos se apoiam, se fortalecem e crescem juntos.
Portanto, é fundamental reconhecer os prejuízos dessa dinâmica e trabalhar para criar um ambiente mais equilibrado e saudável, onde ambos os parceiros possam contribuir de forma igualitária para o relacionamento, valorizando suas individualidades e respeitando as necessidades um do outro.
Sobre o Autor:
Edneusa Santos é Psicóloga, Hipnoterapeuta e Especialista em Desenvolvimento Pessoal. Atuou por 23 anos na área de Gestão de Pessoas. Atualmente se dedica ao atendimento clínico e ministra treinamentos na área de inteligência emocional.
Imagem: Foto Canva
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